Texto: programação e raciocínio lógico

Da criação de um sistema para colher e distribuir água potável ao planejamento de uma linha de produção para fabricação de circuitos integrados e à formulação de uma estratégia para testar uma nova aeronave, engenheiros de todas as especialidades desenvolvem “programas” para resolver problemas. Uma das qualificações mais importantes de um engenheiro é a capacidade de descrever programas de forma clara e livre de ambiguidades.

Em última análise, os computadores são máquinas que seguem automaticamente um conjunto de regras […]. As regras e procedimentos que governam a operação dos processos de computação são chamados de programas de computador, e são escritos em linguagens precisas, especializadas, conhecidas como linguagens de programação.

Os engenheiros sempre estiveram entre os primeiros a adotar novas tecnologias; quando o computador digital se tornou comum na segunda metade do século XX, os engenheiros logo encontraram meios de usar o computador para tornar seu trabalho mais produtivo. No início, para poder usar computadores, os engenheiros tinham que aprender a programá-los. Hoje, porém, com o advento da indústria de software, a maioria dos engenheiros usa ferramentas de computação desenvolvidas por especialistas. Com a notável exceção dos muitos engenheiros cuja função é produzir software para computadores, a programação para a maioria dos engenheiros seguiu o mesmo caminho que a transmissão manual nos automóveis: ainda possui alguns adeptos por causa do maior grau de controle que proporciona, mas existem, disponíveis no mercado, opções mais simples e fáceis de usar.

Curiosamente, depois que foram integrados às escolas e lares na década de 1990, através do uso cada vez maior da Internet, e da queda dos preços do hardware e do software, a tal ponto que praticamente todos os estudantes que entram hoje na universidade já usaram computadores, é que os estudantes se sentem menos confortáreis com essas ferramentas que os da geração anterior. Os estudantes de engenharia não são exceção, e muitos encaram a programação de computadores com desconfiança, talvez por causa do medo de serem considerados “hackers” ou “geeks”. Andy Downard, que se formou em Engenharia Química e obteve MBA na Universidade de Notre Dame antes de fazer doutorado no Caltech, tem algo a dizer sobre o assunto. Diz Andy:

Eu gostava de matemática e ciências no segundo grau, mas não sabia programar computadores. Quase deixei de cursar engenharia proque os computadores me intimidavam. Pensava, tolamente, que meus colegas que estudavam Ciência da Computação estavam em vantagem, e eu jamais conseguiria alcançá-los… Felizamente, não desisti da Engenharia Química e descobri que programar era uma atividade lógica, que não dependia muito da linguagem usada. Os conhecimentos básicos a respeito de Excel, MATLAB, Mathematica e C, que adquiri com relativa rapidez, permitiram-me escrever programas capazes de resolver, em cinco minutos, problemas que eu levaria mais de cinco horas para resolver a mão. Depois de me formar, trabalhei durante um ano em comercialização de tecnologia e raramente escrevia meus próprios programas. A maior parte das minhas necessidades era atendida facilmente pelo Excel ou MATLAB, o que considero básico para a maioria dos trabalhos de engenharia. Hoje me sinto feliz por estar de volta à universidade para fazer um curso de pós-graduação; acabo de aprender a linguagem FORTRAN e comecei a usá-la para escrever um programa de diagnóstico de doenças.

[…] acredito que uma certa exposição à programação de computadores é parte importante da formação intelectual de um engenheiro. […] a leitura e a escrita de programas de computador nos ensinam a descrever procedimentos complexos de forma lógica e precisa. […] o verdadeiro sistema que você está testando quando roda um programa de computador pela primeira vez são seus próprios processos mentais e sua capacidade de formular claramente uma série de instruções.

Fonte: BROCKMAN, Jay B. Introdução à Engenharia: Modelagem e Solução de Problemas. Rio de Janeiro: LTC, 2012

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